terça-feira, 17 de novembro de 2009

o cara que estuda nabokov.


era um janeiro menos quente que o normal. são paulo estava cinza como o habitual e as noites dela tão intensas quanto as dele tediosas. se trombaram por acaso em um club. conversaram até de manhã sobre música, livros e países. quando chegou em casa ela passou o olho na sua prateleira de livros pensando se o impressionaria com seus títulos no dia que ele a visitasse . não saía da sua cabeça que tinha acabado de conhecer um tradutor de saramago dentre roqueiros insanos, putas de butiques e traficantes desleais. atrás de todos os livros enfileirados havia um jogado e empoeirado dentro do limbo dos livros que ficam atrás da estante. e este, que até então, ela nunca tinho lido e que por acaso não sabia nem como tinha parado ali era o tal "evangelho segundo jesus cristo". nada a ver com deus porque ambos não acreditavam nele, mas por que raios esse livro do saramago tinha aparecido na sua frente de trás de sua estante bem quando eles se conheceram? ela é mulher e interpretou como um sinal. ele, nunca ficou sabendo do episódio. namoraram. casaram. se separaram. viajaram. ela nunca mais quis estudar. ele foi estudar na nova zelândia. de longe ele falou do mestre estudioso de nabokov durante um semestre inteiro. brian boyd. ela ouvia e sonhava com as aulas dele no meio do pacífico. porque um professor de nabokov iria  tão longe? porque seu amado iria  tão longe? e porque ela acorda em um sábado de novembro com essa matéria de jornal estampada na sua cara?


Vera, mulher de Vladimir Nabokov (1899-1977), foi quem salvou "Lolita" quando o autor começou a pôr fogo nos manuscritos no quintal de casa, em 1950. Ele só via defeitos ali. Publicado cinco anos depois, o romance o consagraria. Agora, leitores de vários países terão acesso a "O Original de Laura", outra obra cujo destino seriam as chamas não fosse a interferência de Vera.
Com uma diferença. Nabokov não só não teve tempo de mudar de ideia quanto à qualidade desses últimos rascunhos como não pôde concluí-los, já que morreu antes. Seu derradeiro pedido à mulher foi que ateasse fogo aos papéis caso o romance não fosse finalizado. Sem coragem para queimá-los, Vera os guardou até morrer, em 1991. Dmitri, filho do casal, manteve desde então a dúvida sobre a publicação.
Em 2008, fechou com as editoras Knopf/Random House (EUA) e Penguin (Inglaterra). Dmitri alega que se trata de um romance "brilhante". A primeira crítica, feita em julho pela "Publishers Weekly" a partir de um trecho, foi negativa (leia ao lado) e alimentou os comentários sobre o interesse financeiro na decisão -sabe-se que, aos 75, debilitado, o filho de Nabokov precisa pagar internações e exames caros na Suíça.
O livro terá lançamento depois de amanhã, num evento em Nova York que contará com a presença do escritor inglês Martin Amis e do irlandês Brian Boyd, mais renomado biógrafo de Nabokov. No Brasil, sai no próximo final de semana, editado pela Alfaguara.
Em entrevista à Folha por telefone, da Nova Zelândia, onde vive, Boyd demonstra sentimentos ambíguos em relação ao lançamento. Ele foi consultado por Dmitri ao longo de todo o processo e chegou a ajudá-lo com ideias para a edição, mas ainda lembra a impressão que teve quando, em 1987, tornou-se a primeira pessoa fora da família a ver os rascunhos.
"Não fiquei bem impressionado. Quando Vera e Dmitri me perguntaram o que deveria ser feito dos manuscritos, falei para eles os destruírem. Tive medo... Não tinha gostado dos últimos romances dele e tive medo de que "Laura" fosse o sinal evidente do declínio", diz. Boyd ressalva que, naquele momento, só conseguiu ler os rascunhos na frente de Vera, "o que pode ter influenciado no mal-estar em relação ao texto".

Biógrafo muda de ideia
O biógrafo -que hoje edita uma coletânea de cartas de Nabokov- diz pensar diferente agora. "Quando reli o material, em 2001, meu conceito melhorou muito. Não é uma história incrível, como "Ada ou Ardor", mas tem malícia, capacidade de envolver, um jeito de fazer as coisas acontecerem mais rápido do que o leitor pode lidar. Num ponto baixo de sua carreira, Nabokov descobre novas formas de narrar."
"O Original de Laura" tem semelhanças com "Lolita" -envolve a relação entre um homem maduro e uma garota. Flora, cuja vida sexual conturbada levou um ex-amante a escrever escandaloso livro ("Laura"), casa-se com um homem bem mais velho, Philip Wild. Ao longo do livro, Nabokov remete à morte de Wild. Os textos foram escritos em 138 cartões, com situações centrais a partir das quais Nabokov desenvolveria a história. O autor já estava com vários problemas de saúde nos meses em que os rascunhou.
Boyd diz que a edição tem a vantagem de deixar claro que não se trata de um trabalho final. A versão em inglês traz reproduções dos cartões que podem ser retiradas e devolvidas ao livro. No Brasil, o livro sairá com os fac-símiles, em inglês, e a tradução ao lado. 


fim de um conto. ele continua na nova zelândia. brian boyd continua na nova zelândia. a mãe dele está na nova zelândia. e ela? em são paulo, assistindo flight of the conchords e não lendo nabokov, por enquanto.


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