sábado, 22 de março de 2008

Benim Adım Kırmızı (meu nome é vermelho)



534 páginas. 19 narradores diferentes. 59 capítulos. 3 assassinatos. século XVI. nobel de literatura 2006.
era prá mim impossível falar de "meu nome é vermelho" de orhan pamuk sem começar por tais números. não que sua estória seja sobre eles. mas eles precisavam ser citados.
livro difícil esse. o escritor, turco que deu área da turquia há um tempo prá viver em nova york e lecionar em columbia tem uma história de vida parecida com a de uma pessoa que eu amo e por isso a leitura ficou ainda mais instigante prá mim. mas não menos complicada. confesso que algumas vezes me perdi no meio da transoxânia tentando entender as mil e uma lendas que ele conta dos anos 1000 por exemplo e me acostumando com nomes como: khurasan, husret nusret, nedret, hodja, keykavus, akbar, inkhans, djalairidas, ismet-i-dunya, baysungur, etc. mas é isso que esse pamuk quer. ele leva você de 1700 prá 1200 em um parágrafo e quando você pensa que não vai mais conseguir voltar prá trama central da estória ele te põe de cara com o assassino, faz você conversar com ele sem saber quem ele é e ainda te deixa feliz por ter aprendido contos do sultão que casou com a princesa presa na torre depois de derrotar o exército inimigo, destruir seu palácio, se apoderar dos espíritos maus e empalar a cidade inteira. mas calma , não é disso que se trata o livro. o buraco é mais em baixo. a princesa não é bem uma princesa, o bem e o mal se confundem a todo momento, os personagens são todos ambíguos porque são todos seres humanos com mais defeitos do que qualidades, a realidade nua e crua de uma cidade como istambul no fim do século XVI é jogada na sua cara em forma de cheiros, comidas, texturas, barulhos, um inverno cruel, gente fanática, gente pobre, gente podre, gente triste, gente gananciosa, gente conformada mas nunca gente feliz. no livro do orhan ninguém é assim tão feliz. todo mundo tá ocupado tentando sobreviver e passar ileso sobre toda essa loucura de estar vivendo em um mundo preso ao passado com medo de gostar das coisas do futuro. é a eterna briga do oriente com o ocidente. por séculos pintores, miniaturistas ou iluminadores turcos foram obrigados a pintar sua história sem fugir do padrão da pintura oriental. os rostos são sempre iguais, a proporção é sempre a mesma, o animais não podem ser maiores do que as pessoas, as árvores não podem estar em primeiro plano e ter um estilo é uma afronta a alá. se você é um artista e quer fazer um retrato da sua amada ele tem que ser igual ao de uma chinesa que são iguais a todas as outras. não existe a individualidade. é proibído. de repente um sultão influenciado pela arte ocidental de cidades como veneza encomenda um livro sagrado e secreto a um dos maiores mestres da sua geração onde essa tradição podia ser esquecida e seus artistas estavam liberados a viajar nas formas, no conteúdo, nos rostos, nas cores, no vermelho...ah esse vermelho...que mágico. é um capítulo a parte. mas só 1 mesmo. ele fala com você. ele conta o que ele sente. ele te dá uma aula. e daí pro fim e aliás que fim espetacular, espere intrigas, inveja, mortes incríveis, um romance estranho, olhos furados e muito sangue.
e foi como disse o turco que me deu o livro de presente- descobrir o assassino é o que menos importa nessa estória toda.


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