segunda-feira, 10 de março de 2008

uma triste estória kamikaze ou o casamento mais triste de todos os tempos.


em uma dessas longas madrugadas grudada no controle remoto, no chocolate e nos bichos em cima da cama conheci uma triste estória de amor e de guerra. me lembro sempre de uma frase pichada na porta da garagem de uma casa abandonada na avenida por onde meu ônibus passava todos os dias voltando da escola e que jamais vou esquecer. ela já foi apagada faz tempo e a casa não é mais abandonada, por isso hoje ela vira o título desse pequeno conto:

"a guerra é uma invenção dos velhos loucos para a destruição dos jovens apaixonados"

kamikazes fazem parte do imaginário de qualquer pessoa que saiba o mínimo sobre essa história desgraçada que os seres humanos tem escrito até agora. fazem parte da tradição romântica que une o amor, a morte, a coragem e o heroísmo que renderam tantos relatos melancólicos da 2ª guerra. em 1944 um menino de 18 anos conheceu bem o que essas 4 palavras significam. quem contou essa tragédia foi a irmã mais nova dele, uma senhora japonesa maravilhosa com lágrimas nos olhos de dor e mágoa típicos daqueles que já viveram situações extremas de guerra, ainda viva depois de 64 anos. não lembro nomes. mas lembro das fotos. lembro dos seus rostos tristes e com medo. ele estava bonito no seu uniforme de piloto da força aérea do exército japonês segurando uma arma na mão em frente ao pequeno avião que o levaria a morte em algumas horas. ele fingia coragem mas seu coração chorava. um pouco antes da missão suicída em que ele daria a vida pelo seu país e mataria um bocado de homens do exército inimigo ele conheceu uma moça. ela era tão linda que parecia uma pintura de pôster de cosmético dos anos 40 com aquelas meninas de olhos puxados, flores no cabelo e seus kimonos divinos de sonho. ele se apaixonou imediatamente. todo mundo aqui sabe a intensidade da primeira paixão na vida da gente. ele a pediu em casamento. ela não podia recusar. porque ela também se apaixonou. não precisava nem a família obrigá-la por questão de honra e devotismo. mesmo sabendo que no dia do casamento ele não estaria mais aqui. e esse dia que deveria ser o dia mais feliz da sua vida foi uma bizarra cerimônia onde ela se tornaria noiva e viúva ao mesmo tempo. o retrato amarelado e mórbido de uma família destroçada pela sua nação. a mocinha linda de sonhos destruídos posa de vestido de noiva com o retrato do marido no colo enquanto ele explodia seu caça em um navio de guerra americano matando a si próprio pela pátria (como assim??)e mais de cem marinheiros que estavam a bordo. sua missão foi considerada um sucesso. a ela sobraram as medalhas e uma lembrança cruel. a irmã conta que o pai chorou durante todo a culto macabro. ele casava o filho morto. ela nunca tinha visto o pai chorar assim. dizem que a noivinha nunca mais se casou de novo. e que sua beleza a acompanhou por toda a vida.


*dedicado ao andré juliani.


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