segunda-feira, 20 de outubro de 2008

lindemberg.


a menina era linda. cabelo preto liso e nariz arrebitado. ela e as amigas, as populares da escola. eram as gatas. uma delas terminou um namoro de 3 anos. o ex ficou louco, desnorteado. sofrendo de amor daquele jeito mais insano achando que vai morrer sem a amada. sentindo ciúme e inveja de quem chegasse perto dela. quem não se sentiu assim, hã? onde ele mora não é o EUA mas é tão fácil de conseguir uma arma quanto. ele consegue logo duas. avisa os amigos que nessa semana todo mundo iria ouvir falar dele. ele é um garoto muito normal, muito normal mesmo. tão normal que ele precisa fazer alguma coisa extraordinária pra chamar a atenção dela. deles. do mundo. de alguém. machucado, com ódio, com sede de vingança ele pega o trabuco e o revolver e invade o apê da mina. ela estudava com alguns amigos do colégio. armado e jurando que o amor é desculpa pra tudo ele faz todo mundo de refém. ele aprendeu direitinho a lição na tela quente e no domingo espetacular dublado da globo. e nas novelas. os celulares dos reféns começam a tocar, pais procurando os filhos já demorando a voltar pra casa. ele já manda avisar que tá todo mundo preso na sua mira e que logo aquilo tudo ia acabar. avisam a polícia. polícia para quem precisa. pois é. chega um batalhão. cercam o predinho da perifa. as câmeras de todos os canais de tv, rádio, internet do país chegam. arma-se o circo. ele solta alguns dos amigos. ficam ele, sua ex-amada e a amiga dela. ele se vê na tv pela primeira vez. ele criou seu próprio filme, e enquanto atuava como protagonista da sua própria tragédia assistia em tempo real na tela da sala a ex namoradinha com sua arma na cabeça. ele tinha dominado não só ela. mas o país inteiro. e o filme virou uma mini série de 4 dias. mulheres faziam novenas, curiosos acampavam em frente ao local, repórteres dormiam nas calçadas, notícias do sequestro corriam de minuto a minuto na internet, taxistas davam sua opinião, parentes choravam, a turma da escola dela bombava sua comunidade no orkut, a turma do futebol dele não entendia o que tinha acontecido com o menino normal. negociações pelo interfone entre sargento e sequestrador são filmadas em tentativas toscas de humanizar os tiras. ninguém queria matar o moleque afinal ele era réu primário e o crime era passional. a amiga presa no apartamento com o algóz é solta. ficam ele e sua girl. só os dois. ela pedia calma pela janela. ela tem 15 anos. ele tem 22. e aí que a polícia boazinha desse país é legal com a amiga que tinha acabado de ser solta e deixa ela voltar para o cativeiro pra ajudar nas negociações. é. vocês ouviram direito. a refém recém solta volta ao cativeiro. o garoto mais poderoso do que nunca tinha de novo em suas mãos: duas garotas pra poder matar, o próprio suicídio pra cometer, a polícia fazendo o que ele manda, a mídia aos seus pés e uma camiseta do seu time. ele iça a camiseta na janela. dias depois alguém ouve um tiro. a elite da polícia invade o cárcere depois de 100 horas brincando de swat. eles não são a swat. o garoto atira em todo mundo e mata a ex namorada com um tiro na cabeça. se salvam ele, porque a polícia, agora, decide ser boazinha e a amiga da menina morta, que ferida, porém viva, fica pra contar a estória. ele torcia pro são paulo. e o nome desse país é brasil, o país do futebol.

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