quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

when you're young you're the king of the carrot flowers.


ela aciona a tecla mute da TV para os amigos poderem conversar sobre um milhão de assuntos ao mesmo tempo depois do jantar, enquanto a amiga confecciona a máscara atrasada pras fotos do trabalho de amanhã. um ta sentado na janela gritando coisas pro que está no computador, a que está no sofá ri deles.
e então a imagem do fidel começa a passar ininterruptamente em algum noticiário e ela que está de pé no meio da sala pergunta: "fidel morreu"? "não, renunciou", diz a da máscara, absorta na tarefa de colar a superbonder nas serpentinas de mini borrachinhas coloridas que insistiam em cair no chão.
então ela lembra que um dia já gostou do fidel. que gostava de falar que era comunista. ela tinha lá seus 18 anos e provavelmente fez parte da última geração que achava legal o fidel e que atravessou a adolescência sem e-mail. o pai queria morrer com ela. o pai definitivamente não era de esquerda. o pai definitivamente era de direita. ele tinha sido 'jovem guarda' não 'tropicália'. ele lia o 'jornal da tarde' porque tinha preguiça de ler o 'estadão'. a filha devorava até a sessão do ombudsman da 'folha'. quando ela tinha 16 começou a andar com o vizinho filho mais velho da professora de piano que era professor de teatro, usava barba e fazia história na usp. o pai bateu nela o dia que ela chegou em casa 4 da madrugada do espaço Pirandelo. mas ela já tinha se desapaixonado pelo pai antes disso. na primeira discussão sobre nazismo a mãe saiu chorando da sala. na segunda do massacre dos 111 do carandiru a mãe começou a temer pelo futuro da filha. "o pai vai acabar matando essa menina meu deus". logo essa que nunca repetiu de ano. que nunca deu trabalho...
e esse passado de brigas por ideologias das quais ela não acredita mais passou pela cabeça dela como um lampejo enquanto seus olhos de 30 anos assistiam aquele desfile de imagens do velhote vestido em seu casaco adidas vermelho que transformou o sonho dela de um dia ganhar a briga com o pai em um país triste que arranca as luvas dos seus lutadores de boxe e os impede de lutar. essa briga ela perdeu. todo mundo perdeu. o mundo tá uma merda. ninguém presta e seus heróis morreram realmente de overdose...
então a que tava no sofá chama pra irem tomar umas na rua. a lua tava cheia e linda. a outra ainda estava nas máscaras. para os meninos ainda era terça.
elas acabam em um boteco perto do mesmo Pirandelo que um dia fez uma tomar aquele soco literalmente de direita do pai.
elas seguem seguras a travesti que adentra o bar que não sabiam se estava aberto ou fechado. vão direto pro balcão pedem um uísque filam um cigarro e fazem um brinde: "VIVA LA REVOLUCION!"






Um comentário:

bitter sweet disse...

logo esta que nunca repetiu de ano!
viva la revolución!
e hj tem mais.