quarta-feira, 5 de novembro de 2008

teleférico.



Meu fim de semana foi lindo. Nada mais familiar e patético. A tia Gabriela fez 80 anos. Ela é tataravó. Ela, como sua filha, a filha da filha dela e a neta da filha foram mães com 16 anos. O que significa que a filha dela que é minha prima, tem 56 anos e já é bisavó. Só nesse núcleo da tia Gabriela dá pra contar uns 40. E a outra filha dela que não é vó nem bisavó organizou o convescote nessa casa de 1908 que elas vivem atualmente. Morri, claro. Casa grande e senzala de verdade, não esse truque que a gente dá no andar do meu prédio. Foi tipo de chorar. Eu chorava com a casa e a família chorava com as lembranças. Pinga e parente junto vira sopa de lágrimas. Como as da tia Marlene, uma das minhas favoritas. Louca, independente e viúva. Os 3 filhos bofes não deixam ela namorar ninguém depois que o pai, o tio Toninho, um dos homens mais bonitos que eu conheci na vida passou desta pra pior. Morreu de câncer de pulmão porque fumava que nem um desgraçado. E a tia Marlene tá bombando nos bailes da vida enquanto meus primos saem na porrada com qualquer pretendente que leve ela pra casa. E aí ela chorou com aqueles olhos azuis maduros e vestido de estampa com o copo de vodka na mão enquanto meus primos falavam coisas como "o defunto do pai ainda nem esfriou no caixão" e outras palhaçadas que era pra rir. Mas a tia chorou. Eu não posso ver ninguém chorar, é forte demais pra mim, eu passo mal, não sei o que faço e nunca mais esqueço. Homem chorando acaba comigo. Homem feito chorando, então, devia ser proibído. Estraçalha meu coraçãozinho solidário. O tio Pedro é aquele tipo sofrido que fez de tudo nessa vida e nada deu certo não por falta de caráter ou esforço. Filho demais, mulher horrorosa e problema demais pra quem só quer viver numa nice resulta em uma vida infeliz e frustrada. Mas o tio Pedro adotou um moleque 16 anos atrás como se ele fosse rico e já não tivesse gente o suficiente pra cuidar. E o moleque é geniozinho do futebol. Tipo só dá alegria pra ele. Tá no sub 16 não sei de que time prestes a ser contratado por outro melhor ainda depois de anos correndo pra la e pra ca com o menino em baixo do braço em tudo que é clube desafiando cartola e juntando o dinheiro da chuteira. E assim o tio Pedro chorou na mesa de sinuca contando sua estória pra mim. Foi um momento catártico. Se eu fosse rica eu dava todo meu dinheiro pra ele ali na boca da caçapa mesmo. E assim entre lágrimas, lexotan, cachaça, criança gritando, adultos melancólicos e cheiro de mato eu passei meu último sábado. Eu sou uma menina do campo que nasceu na cidade. Eu gosto de voltar pro passado e não gosto de ver as pessoas envelhecendo. Não queria que a vida acabasse e não queria que as pessoas chorassem mais. Prá mim a vida devia ser como o teleférico de Serra Negra que tá lá desde que sou criança. Quando começa a dar medo de verdade você supera e chega no topo prá olhar a cidade de cima.
Tenho muitas coisas prá postar nesse blog ainda. Os dias estão passando rápido demais e as noites tem voado sobre minha cabeça. Meu amor ta chegando e eu nem arrumei a casa inteira pra ele. Ciao, vou dançar.

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2 comentários:

bitter sweet disse...

a luta por uma vida mais teleferica!
deu saudade de ti.
achei que o capi chegava hj.
eita lesera.

cap disse...

telefericos, avioes, nuvens, malas e muita corrida. este post e um dos meus preferidos com certeza.

dancando por uma vida melhor, isso mesmo! :)

e o erro da marinette nao conta, por razoes obvias.